Dez anos depois do lançamento do filme A Bruxa de Blair, um dos mais lucrativos da história do cinema e um dos primeiros a usar uma campanha viral online para sua divulgação, os criadores do fenômeno de 1999 agora pensam em uma sequência.
Eduardo Sanchez e Daniel Myrick rejeitam a sequência lançada em 2000, A Bruxa de Blair 2 - O Livro da Sombras, e agora querem retomar o tema – embora ainda estejam indecisos sobre como será o novo projeto, se seguirá o modelo do primeiro filme ou se será uma sequência mais bem cuidada e cara.
"Idealmente, cada filme da Bruxa de Blair seria completamente diferente um do outro", disse Sanchez ao repórter Kev Geoghegan, da BBC. "Pensamos em fazer um filme que se passa no final de 1700 e se parece com um filme de (Stanley) Kubrick, com uma luz mais granulada."
"Mas agora estamos pensando em voltar (ao filme original) e ver o que aconteceu logo depois de o primeiro filme acabar", acrescentou.
Câmera na mão
No entanto, Sanchez afirma que o novo filme não irá copiar o estilo de A Bruxa de Blair.
"Acho que teremos algum tipo de elemento de vídeo, mas não será um filme com câmeras operadas pelos atores", afirmou.
Apesar de já ter sido usada antes, a técnica de filmagem com câmeras nas mãos de A Bruxa de Blair, que resulta em imagens granuladas e tremidas, se transformou em algo comum nos filmes de terror, sendo repetida em longas como Cloverfield - Monstro e Quarentena.
Myrick afirma que a técnica agora é mais aceita pelo público.
"Todos, desde canais de notícias até documentários, usam a câmera na mão e acho que os expectadores percebem (estas imagens) como mais verdadeiras: 'estou assistindo algo verdadeiro, pois não parece produzido e premeditado'", afirmou.
História de sucesso
O filme original custou US$ 100 mil (cerca de R$ 183 mil) e foi apresentado ao público com um estilo de documentário. Mas a bilheteria mundial do longa chegou a US$ 250 milhões (aproximadamente R$ 458 milhões) graças à campanha na internet antes de seu lançamento e à boa propaganda boca-a-boca.
Mesmo dez anos depois de seu lançamento, a história do desaparecimento de três jovens documentaristas nas florestas de Maryland enquanto investigavam a lenda de uma bruxa local, ainda choca audiências.
A história da criação de A Bruxa de Blair começou em 1993, quando os então estudantes de cinema Sanchez e Myrick escreveram um primeiro esboço do roteiro, de 35 páginas, com a maior parte do diálogo improvisada.
Eles então fizeram um falso documentário de oito minutos a respeito da mitologia da bruxa, como se ela existisse, junto com falsos recortes de jornais e entrevistas.
Logo no início do desenvolvimento do filme, Sanchez criou uma página na internet que afirmava ser o guia definitivo para o mito da Bruxa de Blair, um procedimento que agora é comum antes dos lançamentos de filmes.
As filmagens duraram apenas oito dias em um parque estadual de Maryland. Os três atores, Heather Donahue, Joshua Leonard e Mike Williams, tiveram cursos rápidos para aprender a manusear suas câmeras e então foram levados à floresta.
Durante o dia eles eram guiados para locações com as instruções entregues em caixas de leite e também recebiam ideias para improvisar os diálogos. Durante a noite, eles eram aterrorizados pelos produtores (que estavam escondidos) e privados de alimentos e sono.
''Traídos''
Os dois cineastas dizem que se sentiram traídos pela sequência de 2000, que foi muito criticada e indicada para cinco Razzies, o prêmio dado anualmente para os piores filmes de Hollywood, entregue perto da cerimônia do Oscar.
"Queríamos deixar o burburinho (gerado por) A Bruxa de Blair esfriar um pouco, estava tão fora de controle", disse Myrick.
"(...) Mas eles foram em frente e fizeram o filme pelo que achamos ser todas as razões erradas. Achamos que a história daquele filme destruiu a mitologia", acrescentou.
"Não nos sentimos tão responsáveis por aquele filme, pois tivemos pouco a ver com ele uma vez que declaramos nossa objeção ao rumo que estava tomando. Mas, ao mesmo tempo, tem o nome Bruxa de Blair nele", afirmou Sanchez.
Com o destino não esclarecido dos três personagens do primeiro filme, é improvável que os três atores voltem para a continuação planejada pelos dois cineastas.
"Converso com Josh (Leonard) regularmente e também com Mike Williams. Não vejo Heather (Donahue) há anos", disse Myrick.
"A última vez que ouvi falar dela, ela tinha saído do ramo, ido para o norte morar em um rancho. Talvez ela ainda esteja traumatizada", acrescentou.