Condomínio, que será inaugurado em outubro, dividiu opinião de ONGs
Uma imobiliária espanhola está lançando um asilo exclusivo para idosos gays, lésbicas, transexuais e bissexuais, que está dividindo grupos de defesa dos direitos de homossexuais.
O condomínio de luxo, com piscina, academia com personal trainer e acompanhamento médico, localizado no balneário turístico de Torremolinos, no sul da Espanha, foi batizado de "Arco-Íris" e será inaugurado em outubro. Além de 27 apartamentos, terá um ambulatório médico e um clube social.
"É uma iniciativa que responde a um problema social", disse à BBC Brasil o ativista pelos direitos dos gays e um dos criadores do projeto, Antonio Gutiérrez.
"Consideramos que a maioria dos idosos homossexuais tem pouquíssimo apoio familiar e normalmente não tiveram filhos; portanto sua solidão é maior. Fazer espaços como este representa uma ajuda para que os gays se sintam à vontade e não tenham um forçado regresso ao armário", completou.
Discriminação 'positiva'
Este suposto "retorno ao armário" é também a preocupação das ONGs Grupo de Amigos de Gays, Lésbicas, Transexuais e Bissexuais e Coletivo Lambda que apoiam o projeto, porque afirmam que muitos gays idosos acabam escondendo a condição sexual por medo de serem rejeitados em asilos tradicionais.
"Infelizmente a realidade é que a maioria das instituições de cuidado à terceira idade não estão preparadas para atender e considerar as diferenças deste grupo", afirmou à BBC Brasil o coordenador do Coletivo Lambda, Toni Poveda.
"Quantos profissionais de atenção sanitária têm conhecimento em cuidados de transexuais, por exemplo? Sem falar de questões de sensibilidade, dos preconceitos, da vergonha por dizer que a pessoa que a visita ou com quem quer passar a noite é seu namorado", explicou.
Já a ONG Colegas (Confederação Espanhola de Lésbicas, Gays, Transexuais e Bissexuais), criticou o projeto por considerar a criação de um asilo para gays como uma forma de segregação de um grupo.
"Discriminação positiva não existe. Imagine que comecemos a construir espaços únicos para gays, outros para heterossexuais, para brancos, negros, imigrantes... De que sociedade estamos falando?", disse à BBC Brasil o diretor de campanhas da ONG Colegas, Francisco Ramírez.
As ONGs que apoiam a criação do asilo gay reconhecem que a ideia pode parecer segregadora, mas coincidem com o autor do projeto, que o vê como um "gueto de defesa".
"É um gueto, sim, que nós resguardamos, mas se trata de uma discriminação positiva para não renunciar ao que somos. Para evitar que nossos idosos tenham que continuar passando por vexações quando estão mais vulneráveis", rebateu Gutiérrez.