A médica anestesista Neide Motta Machado, investigada há dois anos pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul por possuir uma clínica que faria aborto, em Campo Grande, foi achada morta neste domingo na saída da cidade. Ela estava dentro do carro e, em uma das mãos, havia uma seringa com substância ainda não identificada. A médica ia enfrentar júri popular por 25 abortos.
O caso de Neide Motta ficou conhecido em abril de 2007, quando uma equipe do Jornal da Globo exibiu uma reportagem que apontava a prática de aborto na clínica conhecida como de Planejamento Familiar, propriedade da médica, no centro de Campo Grande. Câmeras ocultas foram usadas pelos repórteres.
A polícia local e o MPE abriram investigação contra a médica. A Justiça determinou a prisão dela, mas a anestesista ficou detida apenas um mês. De acordo com o MPE, ao menos 9,8 mil mulheres foram atendidas na clínica da médica nas últimas duas décadas. A Polícia Civil quis ouvir todas as pacientes, mas, por determinação judicial, a solicitação foi negada e as mulheres, inocentadas.
Ainda segundo a apuração do MPE, a anestesista cobrava até R$ 5 mil por aborto, e no sistema de cadastro da clínica havia históricos de pacientes de 14 anos de idade.
Em maio deste ano, o Tribunal de Justiça de MS negou um recurso movido pela médica e manteve a denúncia contra ela e mais cinco ex-funcionárias pela prática de 25 abortos. A decisão dizia que ela enfrentaria júri popular.
O advogado Rui Falcão, defensor da médica, disse que nos últimos dias sua cliente andava "triste, abalada e deprimida". Neide teve o registro de médica cassado e, segundo Falcão, ela vivia com os ganhos do aluguel da clínica e de "bens" que possui em Minas Gerais.
O corpo da médica foi achado dentro de seu carro e levado para o Instituto Médico Legal (IML). Até por volta das 19h30, o motivo da morte da anestesista não havia sido divulgado pelos médicos legistas.
Terra