A mulher que foi chamada de "preconceituosa" pelo primeiro-ministro britânico Gordon Brown, sem saber que seu microfone estava ligado, disse neste sábado que desistiu de votar nas eleições gerais do país, marcadas para a próxima quinta-feira.
Em entrevista ao jornal britânico The Mail on Sunday, Gillian Duffy, de 66 anos, afirmou que não vai colocar no correio as cédulas em que já havia marcado seu voto para o partido de Brown, o Trabalhista, antes do encontro com o premiê, na última quarta-feira.
Na ocasião, Duffy disse a Brown sempre ter votado nos trabalhistas, mas fez várias perguntas a ele principalmente em relação a imigração e educação.
Minutos depois, ao entrar em seu carro e sem se dar conta de que seu microfone ainda estava ligado, Brown disse a um assessor que o encontro havia sido "um desastre" e que Duffy era "uma mulher preconceituosa".
As palavras de Brown foram imediatamente veiculadas pelas emissoras de televisão e rádio da Grã-Bretanha, assim como a reação inicial da eleitora.
Poucas horas depois, o premiê foi à casa dela, em Rochdale, e pediu desculpas pessoalmente.
'Lamento por você, Gordon'
Duffy disse ao Mail on Sunday que aceitou o pedido de desculpas de Brown, mas que recusou o convite dele para trocar um aperto de mão diante das câmeras.
"Ele queria que eu fosse com ele lá fora (da casa) e apertasse a mão dele para as câmeras, mas eu disse não", afirmou. "Eu não queria aquele estardalhaço."
A aposentada disse que ficou "chocada" com o episódio e se sentiu mais "triste" do que "brava" com o ocorrido.
"Tudo o que fiz foi fazer perguntas. Isso faz de mim uma pessoa preconceituosa?", disse ao jornal.
"Ele estava sorrindo quando falou comigo mas estava pensando isso de mim. O que mais será que ele pensa quando sorri?".
Duffy afirmou ainda ter dito ao primeiro-ministro quando ele foi à sua casa: "Lamento por você, Gordon, porque você tem mais a perder do que eu".
Estas foram as primeiras declarações públicas da aposentada desde o pedido de desculpas de Brown.
'Arrependimento'
Em um artigo a ser publicado neste domingo pelo jornal Sunday Mirror, a mulher de Gordon Brown, Sarah, diz que o marido vai "se arrepender para sempre" do que disse.
"Eu não estava com Gordon naquela hora, mas eu pude perceber pelo seu tom de voz, quando ele me telefonou para contar, que ele havia feito algo que o fez se sentir muito envergonhado", escreveu ela no artigo.
"Se tem algo que qualquer pessoa que conhece Gordon há de concordar é que ele odeia deixar as pessoas chateadas."
"A ideia de que alguém pode ter se machucado ou se constrangido por algo que ele tenha feito é o tipo de coisa que mexe profundamente com Gordon, e eu sei que o pedido de desculpas dele (a Gillian Duffy) veio do coração."
Para analistas, o incidente em Rochdale atrapalhou ainda mais uma campanha já tida como difícil para o premiê.
As pesquisas de opinião apontam os Trabalhistas em segundo ou em terceiro lugar na preferência do eleitorado britânico. O principal partido de oposição, o Conservador, é líder nas principais sondagens, seguido, às vezes, pelo Partido Liberal-Democrata.
A eleição ocorre na próxima quinta-feira, mas muitos britânicos, como Gillian Duffy, já optaram por votar pelo correio em vez de ir aos postos de votação.