Cidade gasta R$ 400 milhões para recolher sujeira nas ruas.
Foto por Valéria Gonçalvez / Agência Estado
Varreção de rua custa três vezes mais que outras formas de coleta
A cidade do Rio de Janeiro gasta R$ 400 milhões por ano para remover cerca de 1,2 milhão de toneladas de lixo encontrado nas ruas - sujeira jogada no chão pela população e "lixo natural", como folhas que caem de árvores. Com todo esse dinheiro, seria possível construir ao menos dez hospitais de grande porte, 20 escolas ou manter 9.000 policiais militares por ano.
O valor representa o dobro do que o governo federal prometeu repassar ao Rio e cidades da região metropolitana afetadas pela chuva de abril passado e corresponde a quase metade do orçamento da Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana) para este ano, que é de R$ 850 milhões.
Para o assessor da diretoria técnica industrial da Comlurb, José Henrique Penido, o chamado lixo público é o maior problema da empresa atualmente. Segundo ele, esse material representa 40% de tudo o que é recolhido e custa três vezes mais do que a coleta domiciliar (planejada). Penido defende que o que define como "síndrome do metrô" se estenda a outros lugares públicos.
- O impressionante é que quanto mais a Comlurb limpa, mais o carioca se sente à vontade para sujar. Isso é um paradoxo, mas infelizmente é verdade. Observo muito o que chamo de "síndrome do metrô". Não vemos varredores nas estações, mas elas estão sempre limpas e ninguém ousa jogar um papelzinho no chão. Aí, as pessoas saem daquele ambiente, se deparam com sujeira e começam a esvaziar os bolsos nas ruas.
Para tentar controlar a situação, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) lançou no fim do ano passado os chamados lixômetros. São equipamentos, instalados em 34 regiões administrativas, que registram a quantidade de lixo produzida por dia e por mês.
Em março passado, por exemplo, os bairros mais sujos foram Campo Grande (10.455 toneladas), Bangu (8.984 toneladas), Jacarepaguá (7.007 toneladas) e Madureira (5.823 toneladas). Entre os mais limpos estão Complexo do Alemão (848 quilos), Santa Teresa (1.044 tonelada), Ramos (1.421 tonelada) e Guaratiba (1.465 tonelada).
- Nossa meta é a redução do lixo público das ruas em 8% ao ano. A intenção é fazer com que cada carioca se sinta responsável pela sua cidade e demonstre isso. A avenida Rio Branco, no Centro, é varrida três vezes por dia. Isso é retrabalho, tem que mudar.
Questionado sobre que nota daria aos moradores do Rio em relação a limpeza urbana, o assessor da Comlurb foi pessimista.
- Não podemos dizer que o Rio é limpo, pois não é. Na verdade, é uma cidade muito conturbada em relação à limpeza. Hoje ainda não temos um bairro exemplo de conservação. Espero que a gente consiga mudar isso antes da Copa [2014] e da Olimpíada [2016]. Dou uma nota muito baixa, mas muito baixa, para a população em relação ao lixo, mas também não é apenas culpa dela. O poder público também tem o dever de fazer campanhas permanentes de conscientização.
Alto consumo e falta de educação
Para Penido, o aumento do lixo nas ruas está relacionado a hábitos consumistas.
- O lixo cresce na proporção direta do consumo. Aí, nos deparamos com esse tipo de comportamento desregrado das pessoas. Diminuir a quantidade de lixo pra mim é uma utopia inatingível, a não ser que se mude radicalmente os modelos de consumo no planeta.
Especialista em lixo há 32 anos, Penido vê como possível solução o consumo consciente, em que um material é utilizado, reutilizado e há estímulo para que isso aconteça. O primeiro passo para a reciclagem é a coleta seletiva - papel, plástico, vidro e metal são separados da parte do lixo que não é aproveitada. Entretanto, isso está muito distante da realidade.
A cidade do Rio de Janeiro produz cerca de 264 mil toneladas de lixo por mês (aproximadamente 8.800 toneladas por dia), mas os materiais recicláveis provenientes de coleta seletiva somam apenas 600 toneladas mensais, o que não representa nem 1% do total.
Há um projeto da prefeitura junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para que a coleta seletiva seja aumentada em até cinco vezes nos próximos quatro anos. Os estudos já estão sendo feitos e incluem a construção de galpões de reciclagem para os catadores.
Lixômetro em Copacabana, na zona sul, indica a quantidade de lixo recolhida na região (Foto: Divulgação/Comlurb)