sábado, 16 de janeiro de 2010

Tremor de graves consequências no Brasil não pode ser descartado, diz especialista

0

A hipótese de um terremoto de consequências graves no Brasil é muito rara mas não pode ser descartada, segundo George Sand França, chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis- UnB).

Em entrevista à BBC Brasil, França enumera uma série de fatores que poderiam influenciar no resultado de um tremor em território brasileiro, como o aumento da densidade populacional, a falta de estruturas resistentes a abalos e comparações com catástrofes ocorridas em locais com características geológicas semelhantes.

Um dos exemplos citados pelo especialista é a série de terremotos que atingiu a cidade de New Madrid, hoje no Estado americano do Missouri, entre 1811 e 1812. Os tremores chegaram a ser sentidos em Nova York e Boston, a milhares de quilômetros de distância.

"Esses abalos atingiram até 8,2 graus na escala Richter em uma área que fica no meio da placa norte-americana e não nos seus limites, onde é mais comum ocorrerem terremotos fortes", disse França. "Deveria servir de alerta para o Brasil porque o país também está no meio de uma placa, a sul-americana, cujos limites estão no meio do Oceano Atlântico, a leste, e na costa dos países do Pacífico, a oeste."

Mais pessoas

Desde o início das primeiras medições instrumentais, no início da década de 50, o tremor mais forte já registrado no Brasil atingiu 6,2 graus e ocorreu em 1955 em Porto dos Gaúchos (MT).

“Hoje, a concentração demográfica da região é muito maior, então dá para se imaginar o que pode acontecer se houver um terremoto igual novamente”, afirmou França. “E vai haver outro. Não sei quando - posso até nem estar mais vivo - mas vai haver.”

Segundo o especialista, a qualidade das construções também precisa ser revista para se reduzir a possibilidade de uma catástrofe.

“É preciso lembrar que no Brasil um terremoto entre 4,0 e 5,0 graus tem um impacto muito forte, já que não temos a estrutura do Japão e dos Estados Unidos para fazermos construções mais resistentes a abalos, e porque falta uma boa fiscalização das construções”, afirmou o especialista.

Em 2007, um tremor de 4,9 graus atingiu as cidades de Caraíbas e Itacarambi (MG), destruindo várias casas e matando uma menina de 5 anos. Foi a primeira vez que um tremor deixou uma vítima fatal no país.

“Essa morte ocorreu porque a casa onde a menina morava não estava preparada para o sismo”, explicou França.

Investimentos

Já para o britânico Julian Bommer, professor de avaliação de risco de terremotos do Imperial College, de Londres, a frequência e a intensidade dos tremores no Brasil não justificam um investimento em estruturas específicas para resistir a abalos.

“É melhor gastar com a proteção a incidentes mais comuns e urgentes no país, como a violência e as inundações”, afirmou ele à BBC Brasil. “Apenas para estruturas mais críticas, como barragens e usinas nucleares, deveria se investir em construções anti-sísmicas.”

Bommer, no entanto, endossa a ideia de que, apesar de ser uma possibilidade muito pequena, o Brasil pode estar sujeito a um terremoto de consequências graves.

“É preciso lembrarmos que os tremores ocorrem em intervalos que podem ser de séculos, e que nos 500 anos do Brasil ainda não se experimentou um abalo muito forte”, explicou.

Dez senadores gastam R$ 500 mil em combustível em 9 meses

7

Somente a despesa dos dez parlamentares que mais gastaram com combustível nos últimos nove meses de 2009 daria para bancar 291 viagens de carro, com a gasolina a R$ 2,80, entre as duas capitais mais distantes do país, Porto Alegre (RS) e Boa Vista (RR), separadas por 5.348 km, segundo reportagem do site Congresso em Foco. Esses dez senadores consumiram R$ 436.633,62 da chamada verba indenizatória para ressarcir despesas que tiveram com combustíveis e lubrificantes somente entre os meses de abril e dezembro. O valor é suficiente para comprar 155.904 litros de gasolina, o que dá para encher o tanque de 31.188 automóveis.

A verba é suficiente para percorrer 343 vezes a rodovia mais extensa do Brasil, a BR-101, com seus 4.551 km, que ligam o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Daria também para inspecionar as condições de toda a malha rodoviária asfaltada do território nacional nove vezes. Para gastar toda a quantia de combustível, os dez senadores teriam que rodar 1,5 milhão de km. Daria para percorrer 115 vezes o diâmetro da Terra, que é de 13 mil km.

Ranking
Os dados fazem parte de levantamento do Congresso em Foco, com base em informações do Portal da Transparência, do Senado. Foi apenas a partir de abril que a Casa passou a detalhar o uso da verba, com a identificação dos prestadores de serviço e das respectivas notas fiscais.

Os senadores do DEM de Mato Grosso Jayme Campos e Gilberto Goellner foram os que mais gastaram com combustível no período pesquisado. O primeiro consumiu R$ 66,72 mil nos cinco meses em que exerceu o mandato em 2009. Ele está licenciado desde setembro para tratar de assuntos particulares. O segundo recebeu R$ 65,22 mil do Senado nos últimos nove meses do ano para cobrir as despesas com combustível, óleo e lubrificante.

Na sequência, aparecem dois tucanos: Marconi Perillo (GO), que gastou R$ 44,23 mil, e Cícero Lucena (PB), que consumiu R$ 42,84 mil. O petista Augusto Botelho (RR) é o quinto colocado, com R$ 38,75 mil. Dois peemedebistas surgem depois: Almeida Lima (SE), com gastos de 37,81 mil, e Romero Jucá (RR), que usou R$ 37,12 mil da verba com combustíveis.

Apesar de ter deixado o Senado no início de novembro, Expedito Júnior (PR-RO) foi o oitavo colocado no ranking das despesas com derivados de petróleo. Cassado por compra de votos, consumiu R$ 34,24 mil entre abril e setembro. Efraim Morais (DEM-PB), com R$ 32,53 mil, e Romeu Tuma (PTB-SP), com R$ 37,12 mil, fecham a lista dos dez senadores que mais encheram o tanque com dinheiro público.

Sem limites
Diferentemente da Câmara, onde cada deputado pode gastar até R$ 4,5 mil por mês com combustível, não há limite com esse tipo de despesa no Senado. Cada senador pode gastar o quanto quiser desde que apresente nota fiscal.

Se o mesmo teto fosse aplicado ao Senado, pelo menos 13 parlamentares teriam estourado a cota mensal. Além dos dez campeões de consumo, os senadores Mão Santa (PSC-PI) e Magno Malta (PR-ES) e a senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) também gastaram mais que R$ 4,5 mil ao menos uma vez no ano passado.

O campeão em despesas em um só mês foi Jayme Campos. O senador matogrossense apresentou quatro notas fiscais em nome de uma única companhia para pedir o ressarcimento de R$ 20,07 mil com combustível apenas no mês de junho. Jayme também teve gasto superior a R$ 10 mil em outros quatro meses: abril, maio, julho e agosto.

Atuação no Haiti pode consolidar papel de liderança do Brasil

0

Soldados brasileiros da Minustah

Soldados brasileiros da Minustah estão ajudando com primeiros socorros no Haiti

Com o desastre que abateu o Haiti, a diplomacia brasileira para o país caribenho deverá entrar em uma nova fase, na avaliação do Itamaraty. A expectativa é de que o governo brasileiro seja “mais exigido”, mas em contrapartida poderá consolidar seu papel de liderança no processo de paz haitiano.

Na avaliação de diplomatas, o trabalho de recuperação política do Haiti, que já era considerado “complexo”, vai exigir um compromisso ainda maior do governo brasileiro.

A expectativa é de que, depois da fase emergencial de socorro às vítimas, os países que integram as forças de paz, juntamente com as Nações Unidas, “reavaliem as prioridades” da operação.

Como membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil “tem a chance de fazer valer suas perspectivas e visões” em relação ao Haiti, diz um representante da diplomacia brasileira.

“Quem decide é a ONU, mas o Brasil sempre defendeu uma política mais de longo prazo no Haiti, que vá além da segurança”, diz o diplomata.

Uma das possibilidades é de que o efetivo da missão de estabilização da ONU no Haiti, a Minustah, seja ampliado – decisão que precisa ser aprovada pelo Conselho de Segurança.

De acordo com essa mesma fonte do Itamaraty, “não necessariamente” o adicional de tropas precisa sair do Brasil.

“Um dos desafios é justamente o de convencer outros países de que eles também precisam contribuir mais”, diz o diplomata.

Antes do terremoto, a previsão era de que as tropas pudessem ser reduzidas a partir de 2011, o que também deverá ser revisto.

Protagonista

País com o maior efetivo militar no Haiti, com 1.266 homens, o Brasil acabou conquistando um papel de protagonista no processo de paz do país caribenho.

A causa foi abraçada não apenas do ponto de vista militar, mas também diplomático, sendo vista como uma das principais bandeiras da política externa do governo Lula.

Além de reforçar sua influência na América Latina, a experiência militar brasileira no Haiti é vista no governo como mais um ponto favorável à campanha do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O general Carlos Alberto Santos Cruz, que comandou a Minustah de 2007 a 2009, diz que o governo brasileiro tem oferecido apoio financeiro e treinamento à operação e que esse “esforço deu um maior conceito ao Brasil”.

“Não é a toa que a missão de paz, que na verdade é da ONU, muitas vezes é confundida com uma missão brasileira”, diz.

De acordo com a ONG Contas Abertas, o governo brasileiro já gastou mais de R$ 700 milhões com a operação desde o início da missão.

Revisão

Apesar de os militares da Minustah serem treinados para situações de catástrofe, a missão não tem em seu mandato a “reconstrução física” do país, diz o representante da diplomacia brasileira.

A ideia, segundo ele, é de que outras agências da própria ONU se alinhem aos compromissos da missão de paz.

“Estamos falando da reconstrução de um país praticamente do zero, e não apenas mais de uma questão política ou de segurança”, diz. "Por isso acredito que as operações no país terão de ser repensadas”, acrescenta.

Para o general Santos Cruz, a discussão nesse momento é “puramente humanitária”, mas, segundo ele, “em algum momento o Conselho de Segurança deverá discutir o futuro do Haiti”.

“Parte do trabalho que já havia sido feito no país nos últimos seis anos foi perdido. Tanto o componente militar como civil da missão terão de ser reavaliados”, diz.

ONU faz apelo por US$ 550 milhões para ajuda urgente ao Haiti

0

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, lançou, nesta sexta-feira, um apelo internacional para arrecadar US$ 500 milhões em ajuda para o Haiti.

Porto Príncipe

Ban disse que estoque de comida e água é crítico

“A maior parte deste dinheiro seria para necessidades urgentes – o estoque de água e comida é crítico”, disse Ban em entrevista coletiva na sede da Organização em Nova York.

Segundo ele, a maioria dos 3 milhões de habitantes da capital haitiana, Porto Príncipe, continuam sem comida, água, abrigo e eletricidade.

“Dado o número de pessoas desabrigadas nas ruas, nós precisamos providenciar abrigo. Nós precisamos de tendas e mais tendas”, disse.

O secretário-geral afirmou ainda que o Programa Mundial de Alimentação da ONU já começou a alimentar cerca de 8 mil pessoas diversas vezes por dia.

Segundo ele, um esforço humanitário significativo está ocorrendo no Haiti e a ONU está mobilizando todos os recursos “o mais rápido que podemos”. A ONU instalou um centro de operação no aeroporto da capital para coordenar os esforços de busca e resgate de 27 equipes vindas de diversas partes do mundo.

Ban anunciou ainda que chegará ao país neste domingo "para demonstrar solidariedade ao povo haitiano". De acordo com um comunicado divulgado pela ONU nesta sexta-feira, o secretário-geral irá avaliar pessoalmente os esforços humanitários e a escala do desastre em Porto Príncipe.

Devastação

A ONU estima que cerca de 300 mil pessoas ficaram desabrigadas devido ao terremoto.

Agências ligadas à organização acreditam que 3,5 milhões de pessoas no país estão dependendo de ajuda humanitária para sobreviver.

A organização afirma que uma em cada dez casas da capital, Porto Príncipe, foi destruída pelo terremoto de magnitude 7 na escala Richter.

Uma avaliação feita pela missão da ONU no Haiti, com um helicóptero, descobriu que algumas áreas apresentam até "50% de destruição" e muitos prédios desabaram.

"As primeiras estimativas sugerem que cerca de 10% das casas em Porto Príncipe foram destruídas, o que significa cerca de 300 mil pessoas sem casa", afirmou Elisabeth Byrs, porta-voz do Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários.

Já o Comitê Internacional da Cruz Vermelha sugere que cerca de 70% dos edifícios de Porto Príncipe foram destruídos no terremoto que abalou o Haiti.

Em um comunicado divulgado em Genebra, a organização afirmou que pelo menos 15 áreas da capital haitiana foram muito atingidas pelo sismo e pelos tremores menores, que continuam a afetar a região e aumentam ainda mais a ansiedade no país.

Estados Unidos

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou, nesta sexta-feira, o envio de 10 mil soldados ao Haiti até segunda-feira.

Obama descreveu a escala da destruicao no país como “impressionante” e a perda de vidas “de partir o coração”.

“Os Estados Unidos farão o que for preciso para salvar vidas e ajudar as pessoas a se recuperarem”, disse o presidente em um comunicado divulgado pela Casa Branca.

Obama ofereceu todo o apoio do país ao presidente haitiano, René Préval, em uma conversa telefônica nesta sexta-feira.

O secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, disse que os esforços humanitários no Haiti são “a mais alta prioridade do aparato militar americano e todos os recursos estarão disponíveis”.

Segurança

Apesar dos esforços da comunidade internacional, autoridades haitianas e agentes humanitários alertaram nesta sexta-feira para a necessidade de aumentar a segurança de equipes de ajuda por medo de saques e ataques, à medida que aumenta a tensão e a raiva entre sobreviventes do terremoto no Haiti.

Em encontro com o ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, na quinta-feira no Haiti, o presidente haitiano, René Préval, teria manifestado sua preocupação com uma revolta popular devido à frustração dos sobreviventes.

Três dias após o tremor que devastou a capital, Porto Príncipe, dezenas de milhares de pessoas continuam a vagar pelas ruas à espera de alimentos, tratamento médico e informações sobre familiares.

"Infelizmente eles estão lentamente ficando mais impacientes e com raiva", disse David Wimhurst, porta-voz da Missão de Estabilização da ONU no Haiti, a Minustah.