O bairro de Brixton, no sul de Londres, vai ser palco de um inusitado esquema para tentar estimular o comércio local: a criação de uma moeda própria.
A partir desta quinta-feira, a libra de Brixton (Brixton pound) começa a circular no bairro, um dos mais coloridos e animados da capital britânica.
Visitantes ou moradores poderão comprar até 20 libras de Brixton - ao custo de 20 libras esterlinas - e gastá-las em qualquer uma das 70 lojas, clubes, bares ou cafes que participam do esquema.
As libras serão vendidas exclusivamente em uma loja de departamentos e um cafe.
Defensores da ideia dizem que ela incentivará a economia do bairro mantendo a circulação do dinheiro no local - mas seus críticos dizem que ela não passa de um truque de marketing, beirando o protecionismo.
Cupom
Não há qualquer lei na Grã-Bretanha proibindo a emissão de moedas, desde que não se tente passá-las por libras esterlinas.
As notas, nos valores de 1, 5, 10 e 20 unidades, são impressas em papel com marca d'água, hologramas e com a imagem de figuras proeminentes do bairro, são numeradas. Elas não podem ser depositadas em bancos nem deixar o bairro.
Os voluntários por trás do projeto disseram que não foi fácil “vender” a ideia.
Alguns varejistas estão preocupados com a falsificação de notas e com o acúmulo das libras de Brixton em suas caixas registradoras. Outros vêem a novidade como uma forma de divulgar Brixton, sendo que as notas poderiam se tornar cupons de presente, ou até itens de colecionador.
Até agora, varejistas e moradores prometeram converter 10 mil libras em libras de Brixton, mas ainda falta convencer muita gente.
Contra-cultura
O diretor do projeto, Tim Nichols, espera que as pessoas sejam atraídas por uma espécie de “clube secreto” para aqueles que têm as notas especiais, e ainda que o espírito de contra-cultura e boêmio de Brixton, trabalhe a favor da moeda local.
“Nós estamos em Londres, o centro financeiro do mundo, e estamos tentando fazer algo que vai contra o grande sistema banqueiro do qual vivemos à margem.”
Ele também acredita que a recessão pode contribuir a favor da moeda.
As moedas locais são usadas desde a Idade Média, quando não havia moedas nacionais. Segundo o economista Tim Leunig, da London School of Economics, foi só em 1700 que os países europeus passaram a adotar moedas nacionais.
Pesquisas sugerem que, quando a economia entra em queda, comunidades tendem a usar sistemas de troca e escambo. Em outras palavras, quando há pouco dinheiro, as pessoas pensam em fazer sua moeda própria.
“Uma economia local é como um balde furado. A riqueza é gerada e gasta em cadeias de lojas e outras empresas. Ela desaparece, deixando uma economia local empobrecida”, explica Ben Brangwyn, parte da equipe que lançou a libra Totnes, uma moeda local no sul do condado de Devon, na Inglaterra, em 2007.
“A moeda local evita que isso aconteça e mantém o dinheiro circulando dentro do balde, produzindo riqueza e prosperidade.”
Atualmente, há 6.000 libras Totnes em circulação, de uma economia local estimada em 60 milhões de libras esterlinas.
Brangwyn ressalta que se trata de uma experiência radical, ainda muito no início, mas ele estima que um dia possam haver cerca de 2 mil moedas locais na Inglaterra.
As cidades inglesas de Lewes e Stroud também aderiram à experiência, iniciada pelo grupo ambientalista Transition Network.
Recessão
A recessão contou a favor da berkshare – uma moeda local introduzida em Berkshire, Massachusetts, em 2006 – diz Susan Witts, uma das fundadoras do projeto.
Ela atribui o crescimento das Berkshares (de 1 milhão para 2,5 milhões em três anos) parcialmente à recessão e a muito trabalho duro.
“Introduzir uma nova moeda significa muito trabalho. Você tem que treinar os funcionários para usá-la, adaptar a contabilidade. Quando as coisas vão bem, parece um passo extra desnecessário.”
“Mas em tempos difíceis, empresas buscam formas de manter seu negócio. Ele depende da vontade das pessoas de querer determinar seu futuro econômico.”
Alguns economistas, no entanto, consideram o conceito uma forma de atrair publicidade.
“(A moeda local) Pode ajudar as pessoas a se sentirem bem, mas não está alcançando nada de significativo”, afirma Tim Leunig, da LSE.
“Você está dizendo que não pode comprar mercadorias em Hackney, Southwark (outros bairros de Londres) ou da China, mesmo que eles sejam mais baratas. Está dando às lojas de Brixton poder de monopólio e, a longo prazo, destrói incentivos. Quase todas fracassam porque não alcançam nada.”