Um estudo inédito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vai mapear o consumo de álcool e drogas nas maiores estradas do País. Num apanhado das principais rodovias que cruzam as 27 capitais, a pesquisa revela comportamentos do motorista ao volante e as substâncias que porventura consome.
Segundo o diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da UFRGS, psiquiatra Flavio Pechansky, esperava-se encontrar um resultado de alcoolemia (embriaguez ao volante) superior a 30% dos motoristas, mas o maior resultado foi de 8%.
Ainda incompleto, o resultado da pesquisa vai nortear políticas públicas de prevenção a substâncias ilícitas ao volante. Confira a íntegra da entrevista do especialista ao Terra.
Do que tratam os estudos em âmbito nacional desenvolvidos no centro?
Há dois estudos nacionais. Um grande estudo junto à Polícia Rodoviária Federal (PRF) com aproximadamente 3.400 motoristas das rodovias federais que atravessam as 27 capitais em que coletamos dados sobre risco de dirigir, sobre comportamento ao volante e sobre presença de álcool através de etilômetros e saliva, pesquisando também outras drogas psicoativas. Além disso, fazemos uma enquete com uma proporção destes motoristas, que aceitaram dar os telefones para ver condutas de risco relacionadas ao dirigir, como doenças psiquiátricas ou outras alterações que podem alterar o comportamento de trânsito.
Os motoristas pesquisados são profissionais?
Coletamos dados de motociclistas, de motoristas privados, profissionais de caminhão e ônibus e separamos uma amostragem bem complexa, mantendo as proporções em cada Estado.
Os estudos ainda não estão concluídos, mas que certeza já podemos tirar deles?
Para nossa surpresa, os dados iniciais sugeriam uma baixa prevalência de alcoolemias positivas. Quando calculamos inicialmente os estudos, tínhamos pensado em alguma coisa em torno de 20 a 30% e, dependendo do Estado, achamos algo de 5% a 8%. Além disso, há muito comportamento relacionado ao consumo abusivo de álcool na história do motorista no último ano. Por exemplo, ter bebido em grandes quantidades por tempo muito pequeno, ter bebido e dirigido, ter pego carona com quem bebeu, estes números foram bem altos, acima da população normal.
Quando os estudos ficam prontos e que ações ele pode fomentar?
Estes estudos devem ficar prontos em um mês e devem ser divulgados em novembro num seminário nacional. Provavelmente, teremos a partir deste estudo, por exemplo a partir das conclusões sobre o impacto econômico dos acidentes, poderemos formular ou propor alterações das políticas públicas para diferenciar o que precisa ser feito com prioridade ou não. A ideia é dar dados mais fiéis ao governo para que as ações possam ser mais eficazes no trato do problema do álcool, drogas e trânsito.
Conscientização e repressão, quanto se deve investir em cada uma?
Honestamente, acho que 50% para cada. Nos faltam dados, estamos tentando informar mais a população na medida em que estes dados apareçam e, consequentemente, isso tem a ver com conscientizar. A outra parte é que percebemos que a percepção de punição é o que determina o comportamento do motorista. Se eu sei que posso ser punido ou ser pego na barreira porque estou com álcool no sangue isso tem um efeito muito grande. Então é um balanço razoável entre os dois extremos.
Redação Terra
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