Dois dias antes do início da conferência das Nações Unidas sobre o clima em Copenhague, na Dinamarca, cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) se defenderam das acusações de que dados sobre a influência humana nas modificações do clima teriam sido exagerados.
Em um comunicado divulgado neste sábado por dois de seus membros, o IPCC afirmou que o “aquecimento no sistema climático é inequívoco” e que defende “firmemente” que as emissões de gases que causam efeito estufa são um dos fatores que contribuíram para o aumento da temperatura global.
O comunicado foi uma resposta às acusações de que dados coletados por pesquisadores da Unidade de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha, não seriam confiáveis.
Vazamento
A polêmica teve início após centenas de e-mails trocados por pesquisadores da universidade e de outras instituições terem vazado na internet junto com outros documentos.
Segundo alguns críticos, uma das mensagens que vazaram sugeriria que o chefe da unidade de pesquisas da universidade, professor Phil Jones, queria excluir alguns documentos da próxima avaliação da ONU sobre o clima, levantando suspeitas de uma tentativa de manipulação de dados sobre o aquecimento global.
Jones, que deixou seu cargo, nega que sua intenção fosse manipular os dados. Uma investigação independente sobre o caso está sendo conduzida.
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No comunicado divulgado neste sábado, os professores Thomas Stocker e Qin Dahe, chefes do grupo de trabalho 1 do IPCC, condenaram o vazamento dos e-mails na internet, mas evitaram comentar o conteúdo das mensagens.
Os cientistas preferiram tentar rebater diretamente as acusações de que os dados sobre o aquecimento global seriam exagerados.
“(As conclusões da ONU) são baseadas em informações de diversas instituições independentes em todo o mundo, que demonstram mudanças significativas no solo, atmosfera, oceanos e nas partes do planeta cobertas por gelo”, diz o comunicado.
“Por meio de trabalho científico independente envolvendo métodos estatísticos e uma série de modelos climáticos, estas mudanças foram detectadas como desvios significativos da variação climática natural e foram atribuídas ao aumento (na emissão) de gases causadores do efeito estufa”.
‘Conspiração’
Também neste sábado, o professor Jean-Pascal van Ypersele, vice-diretor do IPCC, afirmou acreditar que o vazamento dos e-mails faz parte de uma conspiração para desacreditar os dados sobre o aquecimento global antes da conferência de Copenhague.
“Você acha que é coincidência isto ter acontecido a duas semanas de Copenhague?”, disse o cientista, que acusou hackers russos de receberem dinheiro para publicar os e-mails na internet.
Ele, no entanto, não citou nomes ao dizer quem estaria interessado no vazamento.
“A intenção era claramente abalar a confiança que os negociadores (da conferência) têm na ciência”, declarou Ypersele, que, no entanto, afirmou haver diversas outras evidências que comprovam o aquecimento global.
“Mesmo que as evidências que aqueles cientistas (que tiveram os e-mails vazados) fossem descartadas, nada mudaria nas conclusões do IPCC”.
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