A coleta dos corpos é uma parte dura da missão de resgate e que exige um preparo emocional e psicológico muito grande por parte dos militares envolvidos na busca pelos destroços do A330. Em acidentes aéreos graves, esse trabalho exige um esforço físico brutal e um autocontrole impressionante. Conheço vários militares da FAB que atuaram nesse tipo de missão. Alguns me disseram que torcem para que a busca por corpos nos destroços se dê em uma área carbonizada pela explosão da própria aeronave - o fogo higieniza o ambiente, eliminando os insetos e os odores da decomposição. Isso não ocorreu, por exemplo, com as vítimas do desastre com o Boeing da Gol no Mato Grosso, cujo drama final envolveu um mergulho em parafuso encerrado já perto do solo, quando a estrutura não aguentou a força G da curva e se partiu em vários pedaços grandes. E o trabalho do Salvaero ali foi um dos mais difíceis já realizados, completado com um resultado impressionante: todos os corpos foram recuperados após meses de árdua tarefa. E tempos depois, os peritos que precisavam avaliar os destroços ainda encontravam um ambiente impossível de atuar.
No acidente com o A330, a água substituiu o fogo nessa relativa preparação do ambiente para as equipes de resgate. Mas mesmo assim, segundo militares envolvidos, o recolhimento dos restos mortais de passageiros e tripulantes - o uso da palavra corpos é uma janela semântica para horrorizar menos quem precisa acompanhar o processo ou chora pela perda traumática - tem sido uma penosa sucessão de chocantes reproduções da violência da tragédia. Um dos militares com acesso às equipes de resgate me contou que os corpos estão muito mutilados, vários se apresentam desmembrados e sem cabeça - restando apenas o tronco - e irreconhecíveis por características visuais. A definição da identidade se dará mesmo pelo DNA. Em alguns pouquíssimos cadáveres, mais preservados, os militares já encontraram a primeira e definitiva versão para os instantes finais do vôo AF447: corpos completamente nus confirmam que o Airbus se desintegrou no ar antes do choque com o mar. Se os cálculos da razão de descida - que em condições normais fariam o jato bater na água a 215 km do ponto inicial de alarme, e não a 70 km - mostravam um angulo elevado de mergulho, a prova cabal e técnica está nessa descoberta.
De acordo com especialistas em resgate, um dos principais indicativos de uma despressurização violenta decorrente de ruptura estrutural é encontrar corpos sem qualquer peça de roupa. No acidente de Mato Grosso, alguns assim estavam presos em galhos de árvores. A explicação traduz bem a aterradora experiência: quando a cabine se rompe, a descompensação na pressão provoca uma enorme corrente de ar, que arrasta partes do interior da cabine mesmo que estejam firmemente presas ao chão. Cadeiras, forros de paredes, estruturas das janelas, painéis do teto, enfim, tudo é arrancado numa implosão. O repuxo ainda rasga e tritura todas as roupas das pessoas, mesmo que estejam firmemente amarradas nos assentos - que só resistem por pouco tempo. O consolo, se é que se pode dizer assim, é que a morte ocorre em poucos segundos. Pelo menos no caso desse corpo encontrado sem todas as roupas, a passagem para outra dimensão serviu para elucidar mais um capítulo dessa trágica etapa da história da aviação.
No acidente com o A330, a água substituiu o fogo nessa relativa preparação do ambiente para as equipes de resgate. Mas mesmo assim, segundo militares envolvidos, o recolhimento dos restos mortais de passageiros e tripulantes - o uso da palavra corpos é uma janela semântica para horrorizar menos quem precisa acompanhar o processo ou chora pela perda traumática - tem sido uma penosa sucessão de chocantes reproduções da violência da tragédia. Um dos militares com acesso às equipes de resgate me contou que os corpos estão muito mutilados, vários se apresentam desmembrados e sem cabeça - restando apenas o tronco - e irreconhecíveis por características visuais. A definição da identidade se dará mesmo pelo DNA. Em alguns pouquíssimos cadáveres, mais preservados, os militares já encontraram a primeira e definitiva versão para os instantes finais do vôo AF447: corpos completamente nus confirmam que o Airbus se desintegrou no ar antes do choque com o mar. Se os cálculos da razão de descida - que em condições normais fariam o jato bater na água a 215 km do ponto inicial de alarme, e não a 70 km - mostravam um angulo elevado de mergulho, a prova cabal e técnica está nessa descoberta.
De acordo com especialistas em resgate, um dos principais indicativos de uma despressurização violenta decorrente de ruptura estrutural é encontrar corpos sem qualquer peça de roupa. No acidente de Mato Grosso, alguns assim estavam presos em galhos de árvores. A explicação traduz bem a aterradora experiência: quando a cabine se rompe, a descompensação na pressão provoca uma enorme corrente de ar, que arrasta partes do interior da cabine mesmo que estejam firmemente presas ao chão. Cadeiras, forros de paredes, estruturas das janelas, painéis do teto, enfim, tudo é arrancado numa implosão. O repuxo ainda rasga e tritura todas as roupas das pessoas, mesmo que estejam firmemente amarradas nos assentos - que só resistem por pouco tempo. O consolo, se é que se pode dizer assim, é que a morte ocorre em poucos segundos. Pelo menos no caso desse corpo encontrado sem todas as roupas, a passagem para outra dimensão serviu para elucidar mais um capítulo dessa trágica etapa da história da aviação.
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