Tatiana de Mello
Até o final de 2008, dez milhões de brasileiros terão acesso à internet rápida. O número é de respeito, mas não há o que comemorar. Uma pesquisa das universidades de Oxford, na Inglaterra, e Oviedo, na Espanha, revelou que, na verdade, o que os brasileiros chamam de banda larga é uma conexão de qualidade muito inferior ao que há disponível em outras partes do mundo. Segundo a pesquisa, encomendada pela empresa de tecnologia de sistemas Cisco, temos um dos piores acessos à internet rápida do planeta. No ranking de 42 países, estamos na 38ª posição. Apenas México, Chipre, Índia e China têm internet pior do que a nossa. A velocidade média de download (recebimento de dados) no Brasil é de 1052 kbps. Uma velocidade considerada satisfatória seria a de, pelo menos, 3,75 Mbps (quase quatro vezes a nossa). No Brasil, velocidades muito baixas já são classificadas como banda larga. Para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), uma velocidade de 64 kbps já é banda larga (só para se ter uma idéia, uma conexão discada tem 56 kbps). Além da complacência, muitos contratos de internet de banda larga no Brasil garantem apenas 10% da velocidade vendida. Ou seja: um usuário que contratou um pacote de 2 Mbps pode ter apenas 200 kbps disponíveis. “O problema é que todo mundo aceita isso como normal. No nosso modelo, não há competição”, disse à ISTOÉ Horacio Belfort, presidente da Associação Brasileira dos Usuários de Acesso Rápido (Abusar).
Os dados da pesquisa foram captados a partir de oito milhões de testes de velocidade feitos por usuários de todo o mundo. Em uma escala qualitativa que vai de 0 a 100, o Brasil fez apenas 13 pontos. Convertendo isso em qualidade: um país com uma boa internet deveria ter 32 pontos. Uma notícia mais alentadora é que mesmo países desenvolvidos como Canadá, Reino Unido e Espanha ficaram abaixo desse patamar. O México foi o último colocado no ranking. A melhor internet do mundo é a do Japão. O país fez 98 pontos na escala (velocidade de download de 16,7 Mbps) e foi o único a ter uma internet de qualidade para se assistir a vídeos em alta definição. É a esse nível que os analistas querem que o Brasil chegue. O estudo prevê que em três ou cinco anos a internet precisará ter uma velocidade de, pelo menos, 11,25 Mbps para garantir o acesso às novas tecnologias. Para isso ocorrer no Brasil, segundo conclusão da pesquisa, devem ocorrer mudanças em todos os níveis. O governo precisa investir em infra-estrutura; as prestadoras de serviço devem se comprometer com qualidade; e o usuário final deve manter seus equipamentos atualizados e fazer testes de velocidade para conferir se o que paga é o que de fato leva.
Em quantidade de acesso, o Brasil já tem número de gente grande. Alcançaremos até o final deste ano a meta de banda larga que era esperada para 2010. “A maior venda de laptops e desktops para o segmento residencial, estimulada por ofertas de crédito no mercado, implica aumento da demanda por banda larga nos lares brasileiros”, avaliou Pedro Ripper, presidente da Cisco do Brasil. O crescimento é tão intenso que a meta para 2010 foi elevada para 15 milhões de usuários de internet rápida. Mas será que o Brasil alcançará a velocidade que a tecnologia vai exigir?
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