quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Debate sobre 'o caso' do topless ganha força na França

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St Tropez (arquivo)

Mais de quarenta anos após atrair os primeiros olhares espantados nas praias da Riviera de St. Tropez, nos anos 1960, o topless voltou ao centro do debate na França.

Dentro da tradição intelectual-engajada típica dos debates públicos franceses, um livro e protestos de grupos feministas vieram recentemente alimentar a polêmica sobre se a prática está ou não se tornando cada vez mais rara no país.

A jornalista Regan Kramer, que vive em Paris, é uma das que investigam a razão de "quase não se verem mais mulheres fazendo topless na França".

Ela argumenta que a Aids – "um balde d’água na revolução sexual em geral" – tirou também o prazer subversivo de tomar sol sem a parte de cima do biquíni.

Para a jornalista, que também faz parte do grupo feminista Les Chiennes de Garde – literalmente, As Cadelas de Guarda – outra forte razão seria a publicidade.

Por um lado, disse Kramer, "mais mulheres se sentem incomodadas pela tendência ‘porno-chic’ de espalhar imagens de modelos seminuas em cartazes por todos os lados".

Por outro, ela diz, "fazer topless gradualmente se tornou uma obrigação, e no fim a perspectiva feminista passou de festejar uma liberdade recém-adquirida a rejeitar a pressão sem fim de exibir o 'corpo perfeito'".

Até a destruição da camada de ozônio teve seu papel, ao elevar as preocupações de muitas mulheres com o efeito dos raios solares potencialmente cancerígenos sobre seus seios, afirmou.

Direitos

O debate aterrissou neste verão francês quando a prefeitura parisiense proibiu o topless nas praias artificiais ao longo das margens do rio Sena. A medida levou muitas feministas a sugerir que a França recuou na garantia dos direitos das mulheres de mostrar o que bem entenderem.

Biarritz, França, anos 1980

Para muitas mulheres, o topless representou ter poder sobre o corpo

Críticos da decisão das autoridades parisienses notaram, por exemplo, que o véu que esconde o rosto de muitas muçulmanas permanece autorizado. Nenhuma outra praia francesa proíbe o topless.

Nas piscinas públicas da cidade, o grupo feminista Les Tumultueuses (As Tumultuosas, em tradução livre) vem realizando diversas ações em defesa do topless – evidentemente vestidas a caráter.

No último desses protestos, Natacha, uma das integrantes do grupo, protestou quando a gerência chamou a polícia para dispersar as ativistas.

"Ninguém dá bola para mulheres de topless que aparecem todos os dias nas bancas, ainda que essas imagens sejam degradantes. Mas quando se trata de uma mulher de verdade, aí é um problema, e chama-se a polícia", afirmou.

O grupo distribui folhetos com o slogan "Meu corpo, se eu quiser, quando eu quiser, assim como é" – uma alusão ao slogan pró-aborto que se disseminou nos anos 60, "Um bebê, se eu quiser, quando eu quiser".

Sal e sol

Incorporando elementos à discussão, o historiador Christophe Granger lançou há pouco tempo seu livro Les Corps d’été – “Corpos de verão”, em tradução livre –, que discute o "triângulo amoroso entre as francesas, a nudez e o sol" ao longo do século 20.

Em uma entrevista à revista L'Express, o autor disse que se interessou pela "mudança de significado" atribuído ao corpo na estação ensolarada.

"De repente, o corpo se torna central, é ganha um sentido maior ao mesmo tempo simbólico e afetivo. Todas as trocas sociais, familiares e afetivas se organizam ao redor dele", disse o historiador.

Em seu livro, ele registra essa mudança em diferentes momentos no tempo e no espaço, e como a sociedades reage.

Ninguém dá bola para mulheres de topless que aparecem todos os dias nas bancas, ainda que essas imagens sejam degradantes. Mas quando se trata de uma mulher de verdade, aí é um problema, e chama-se a polícia.

Natacha, ativista por direitos das mulheres

Tal e qual o verão de 1964, quando as primeiras manifestações de topless em St Tropez atraíram olhares espantados. Muitas mulheres se sentiram mais livres e donas de seu próprio corpo, e muitos passaram a ver a prática como "um progresso feminista".

Hábito que, para a jornalista Regan Kramer, "parece estar simplesmente desbotando, como o bronzeado no outono, um processo reforçado como uma espécie de efeito bola de neve, já que é preciso uma massa de mulheres fazendo topless para a maioria se sentir confortável com isso".

A jornalista conta a reação de uma parisiense de 18 anos que foi questionada sobre a disposição de fazer topless na praia.

"Você está brincando?", disse. "Não se sai andando por aí assim na frente das pessoas."

Mas a resposta mudou quando ela considerou a possibilidade de fazer topless se todas as outras mulheres estivessem no mesmo barco.

"Por que não? Pode ser divertido."

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