Sobrou um dinheiro na conta corrente e você nem percebeu? Mas o seu banco, tenha certeza, sabe direitinho que a grana está lá. E apesar de você não tê-la usado para nada, a instituição financeira com a qual você trabalha provavelmente soube ganhar com os recursos que ficaram parados.
O economista da Febraban (associação que representa o setor bancário), Rubens Sardenberg, explica que o dinheiro que sobra nos bancos geralmente é aplicado em títulos públicos federais em operações de um dia, chamadas de overnight.
Por exemplo, se você recebe o salário na conta corrente no dia 10 e não mexe no dinheiro, não importa se por um dia ou mais, o banco pode usá-lo par fazer uma aplicação de um dia em títulos do governo federal, no Banco Central.
Os bancos aplicam o dinheiro no final do dia e na manhã seguinte recebem os recursos de volta, só que corrigidos por um juro equivalente a um dia da taxa básica (Selic), que está em 8,75% ano. Os rendimentos, claro, ficam com os bancos, e você nem percebe que tudo isso aconteceu porque as operações são feitas eletronicamente.
Mas os bancos não têm liberdade de movimentar todo o dinheiro que fica na conta corrente porque são obrigados a depositar uma parte desses recursos no Banco Central. Isso se chama depósito compulsório.
Marcos Cintra, professor titular e vice-presidente da FGV (Fundação Getúlio Vargas), explica que essa medida tem o objetivo de evitar que os bancos emprestem dinheiro demais e acabem ficando sem reservas caso sejam feitos muitos saques num mesmo período. Ou seja, os bancos têm que estar preparados para devolver o dinheiro caso você precise dele.
De cada R$ 100 que estão na conta corrente, os bancos deixam R$ 42 no caixa do BC (esse é valor de compulsório ficado pelo Banco Central). O restante, eles podem, além de aplicar em títulos públicos, emprestar para consumidores e empresas.
Entretanto, como há maior risco de inadimplência das pessoas físicas e jurídicas, os bancos preferem colocar dinheiro em títulos públicos vendidos pelo BC, que são mais seguros e têm lucro garantido.
De acordo com dados do Banco Central, até 15 de julho deste ano havia uma sobra de aproximadamente R$ 400 bilhões nos bancos. Segundo Sardenberg, essa não é uma situação de equilíbrio e reflete a cautela dos consumidores e empresários em razão da crise econômica mundial.
As dúvidas sobre o que pode acontecer no futuro em relação ao consumo, emprego, inflação e todo resto da economia brasileira levou a uma paralisação dos investimentos, tanto das empresas quanto das pessoas.
Ou seja, a empresa que pretendia construir uma nova fábrica, preferiu deixar o dinheiro no banco e esperar para ver o que acontecerá com a economia. Muitos consumidores que planejavam trocar de carro ou mesmo comprar um apartamento também optaram por aguardar mais um pouco antes de tomar a decisão. Foi esse movimento que gerou uma sobra de dinheiro no caixa dos bancos privados.
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