A hipótese de um terremoto de consequências graves no Brasil é muito rara mas não pode ser descartada, segundo George Sand França, chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis- UnB).
Em entrevista à BBC Brasil, França enumera uma série de fatores que poderiam influenciar no resultado de um tremor em território brasileiro, como o aumento da densidade populacional, a falta de estruturas resistentes a abalos e comparações com catástrofes ocorridas em locais com características geológicas semelhantes.
Um dos exemplos citados pelo especialista é a série de terremotos que atingiu a cidade de New Madrid, hoje no Estado americano do Missouri, entre 1811 e 1812. Os tremores chegaram a ser sentidos em Nova York e Boston, a milhares de quilômetros de distância.
"Esses abalos atingiram até 8,2 graus na escala Richter em uma área que fica no meio da placa norte-americana e não nos seus limites, onde é mais comum ocorrerem terremotos fortes", disse França. "Deveria servir de alerta para o Brasil porque o país também está no meio de uma placa, a sul-americana, cujos limites estão no meio do Oceano Atlântico, a leste, e na costa dos países do Pacífico, a oeste."
Mais pessoas
Desde o início das primeiras medições instrumentais, no início da década de 50, o tremor mais forte já registrado no Brasil atingiu 6,2 graus e ocorreu em 1955 em Porto dos Gaúchos (MT).
“Hoje, a concentração demográfica da região é muito maior, então dá para se imaginar o que pode acontecer se houver um terremoto igual novamente”, afirmou França. “E vai haver outro. Não sei quando - posso até nem estar mais vivo - mas vai haver.”
Segundo o especialista, a qualidade das construções também precisa ser revista para se reduzir a possibilidade de uma catástrofe.
“É preciso lembrar que no Brasil um terremoto entre 4,0 e 5,0 graus tem um impacto muito forte, já que não temos a estrutura do Japão e dos Estados Unidos para fazermos construções mais resistentes a abalos, e porque falta uma boa fiscalização das construções”, afirmou o especialista.
Em 2007, um tremor de 4,9 graus atingiu as cidades de Caraíbas e Itacarambi (MG), destruindo várias casas e matando uma menina de 5 anos. Foi a primeira vez que um tremor deixou uma vítima fatal no país.
“Essa morte ocorreu porque a casa onde a menina morava não estava preparada para o sismo”, explicou França.
Investimentos
Já para o britânico Julian Bommer, professor de avaliação de risco de terremotos do Imperial College, de Londres, a frequência e a intensidade dos tremores no Brasil não justificam um investimento em estruturas específicas para resistir a abalos.
“É melhor gastar com a proteção a incidentes mais comuns e urgentes no país, como a violência e as inundações”, afirmou ele à BBC Brasil. “Apenas para estruturas mais críticas, como barragens e usinas nucleares, deveria se investir em construções anti-sísmicas.”
Bommer, no entanto, endossa a ideia de que, apesar de ser uma possibilidade muito pequena, o Brasil pode estar sujeito a um terremoto de consequências graves.
“É preciso lembrarmos que os tremores ocorrem em intervalos que podem ser de séculos, e que nos 500 anos do Brasil ainda não se experimentou um abalo muito forte”, explicou.
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