Sinônimos de pobreza e violência, as periferias das grandes cidades estão mudando de status graças à expansão da renda das classes C, D e E. Ávidos por consumirem tudo o que couber no orçamento mensal — reforçado pelo crédito farto —, os integrantes dessas camadas da população detonaram uma guerra nunca vista no varejo, principalmente entre os supermercados, que não param de anunciar a abertura de lojas. A revolução é tamanha que, mesmo as grandes redes, que sempre torceram o nariz para esse público, estão mudando os formatos de seus estabelecimentos para funcionar como lojas de bairro, com conforto e modernidade, mas sem os exageros dos hipermercados que seduzem os mais abastados.
Para comprovar que não há tempo a perder, os supermercadistas estão se baseando em números captados pela associação que representa o setor, a Abras. Enquanto as vendas dos hiper registraram queda de 6,4% entre 2008 e 2009, as redes de médio e pequeno portes deram um salto de 25%. É que, mesmo com o estrago provocado pela crise mundial, os segmentos menos favorecidos da sociedade viram o emprego crescer e, melhor, a renda aumentar, devido ao reajuste acima da inflação do salário mínimo. Como reforço, o governo ampliou a rede de proteção social, beneficiando mais de 11 milhões de famílias. No caminho inverso, as classes A e B levaram um baque, pois vagas com altos salários foram fechadas na indústria e no sistema financeiro e a poupança de muita gente ruiu.
É Filipe Aboláfio, analista de mercado da Nielsen, consultoria responsável pelo estudo Mudanças no Mercado Brasileiro de 2010, quem afirma: “Os grandes varejistas já se atentaram para todos esses fatores. É preciso ir para a periferia, se aproximar das classes C, D e E”. Ele diz mais: “O consumidor está evoluindo. Antes, era arraigado à compra de abastecimento em um grande mercado. Hoje, tem diferentes momentos de compra, e o formato de conveniência, de lojas menores, próximas de casa, tem ganhado espaço”.
Atacarejo
Tal mudança no perfil do consumidor, apoiada na expansão da renda, detonou uma guerra entre as grandes redes e as empresas de menor porte, uma concorrência que só favorece a clientela. “Hoje, as pessoas estão em busca de facilidade. Quando você vai a um hiper, está arriscando esperar muito em uma fila de compras. Por isso, nosso modelo tem espaço para crescer”, avalia Zilmara Pereira, dona da marca de supermercados Caíque, com cinco lojas na periferia do Distrito Federal.
Mercados semelhantes ao de Zilmara, com cerca de 15 caixas registradoras por loja, ampliaram as vendas em 9,3% no ano passado de acordo com os dados da Nielsen. Foi o caso da rede Comper, com 32 unidades no país. “Somos um mercado de vizinhança, adequamos o nosso mix de produtos à região onde estamos instalados e isso tem dado certo. Estamos nos fortalecendo nos estados em que atuamos e nos tornamos um concorrente forte no setor”, conta Carlos Paes, gerente regional do Comper no DF.
A despeito do ganho de musculatura das pequenas, são os grandes varejistas os que mais têm impulsionado a expansão dos supermercados nos subúrbios. “As bandeiras que mais crescem são no formato vizinhança, com preços mais competitivos e sortimento bem planejado para fazer frente às lojas locais”, explica Aboláfio, da Nielsen. Algumas lojas, inclusive, misturam atacado (preços menores para mercadorias compradas em grande quantidade) com varejo, o popular “atacarejo”. “As lojas de vizinhança continuam sendo uma forte tendência. Obviamente, os hiper crescem menos porque são um formato já consolidado”, pondera Maurício Ferrutti, diretor da rede Assaí, que faz parte do grupo Pão de Açúcar.
Boas promoções
Ferruti é o típico dirigente do “atacarejo”. “Nessas lojas, os preços são 20% menores”, garante o executivo. Que emenda: “O objetivo é atender o pequeno varejo, mas as famílias aderiram também. Inicialmente, as classes que atendem a esses conceitos são as que buscam preço, como as C e D. Mas, hoje em dia, há uma procura de custo-benefício por todas as classes”. Segundo Ferruti, esse é o modelo de varejo que mais deve crescer nos próximos anos, principalmente com a melhora de renda da população mais pobre.
Tanto é assim que a maioria desses tipos de mercado se concentra em regiões de menor poder aquisitivo, conforme informações da Nielsen. O diretor do Assaí reforça essa tese com os números da própria rede: “Entre 2007 e o início de 2010, as lojas de ‘atacarejo’ do grupo Pão de Açúcar passaram de 14 para 42. Neste ano, os planos são de abrir mais 20”.
Todos os varejistas seguem na mesma tendência, investindo fortemente no “atacarejo”. “De 1995 até hoje, vínhamos abrindo uma loja de vizinhança por ano. Agora, reduzimos o ritmo e estamos focando no ‘atacarejo’, com a bandeira Forte. No último ano, abrimos quatro lojas”, relata Carlos Paes, do Comper. Até 1999, haviam 72 lojas com tais características no Brasil. No ano passado, já eram 291, um incremento de 304%. Toda essa expansão tem resultado em preços melhores, promoções constantes e boas condições de pagamento.
Hiperinflação
O hábito de estocar mantimentos vem de períodos de instabilidade econômica. É uma herança cultural da era da hiperinflação, na qual os preços variavam em questão de horas. Com a chegada do plano Real, em 1994, e da estabilidade econômica, o brasileiro perdeu a necessidade de fazer grandes compras mensais e passou a ir mais vezes ao supermercado. A consultoria Nielsen mostra que a calmaria econômica mudou o modelo de consumo da população, que trocou as despensas cheias pelas compras de conveniência, fortalecendo os mercados de vizinhança.
Para comprovar que não há tempo a perder, os supermercadistas estão se baseando em números captados pela associação que representa o setor, a Abras. Enquanto as vendas dos hiper registraram queda de 6,4% entre 2008 e 2009, as redes de médio e pequeno portes deram um salto de 25%. É que, mesmo com o estrago provocado pela crise mundial, os segmentos menos favorecidos da sociedade viram o emprego crescer e, melhor, a renda aumentar, devido ao reajuste acima da inflação do salário mínimo. Como reforço, o governo ampliou a rede de proteção social, beneficiando mais de 11 milhões de famílias. No caminho inverso, as classes A e B levaram um baque, pois vagas com altos salários foram fechadas na indústria e no sistema financeiro e a poupança de muita gente ruiu.
É Filipe Aboláfio, analista de mercado da Nielsen, consultoria responsável pelo estudo Mudanças no Mercado Brasileiro de 2010, quem afirma: “Os grandes varejistas já se atentaram para todos esses fatores. É preciso ir para a periferia, se aproximar das classes C, D e E”. Ele diz mais: “O consumidor está evoluindo. Antes, era arraigado à compra de abastecimento em um grande mercado. Hoje, tem diferentes momentos de compra, e o formato de conveniência, de lojas menores, próximas de casa, tem ganhado espaço”.
Atacarejo
Tal mudança no perfil do consumidor, apoiada na expansão da renda, detonou uma guerra entre as grandes redes e as empresas de menor porte, uma concorrência que só favorece a clientela. “Hoje, as pessoas estão em busca de facilidade. Quando você vai a um hiper, está arriscando esperar muito em uma fila de compras. Por isso, nosso modelo tem espaço para crescer”, avalia Zilmara Pereira, dona da marca de supermercados Caíque, com cinco lojas na periferia do Distrito Federal.
Mercados semelhantes ao de Zilmara, com cerca de 15 caixas registradoras por loja, ampliaram as vendas em 9,3% no ano passado de acordo com os dados da Nielsen. Foi o caso da rede Comper, com 32 unidades no país. “Somos um mercado de vizinhança, adequamos o nosso mix de produtos à região onde estamos instalados e isso tem dado certo. Estamos nos fortalecendo nos estados em que atuamos e nos tornamos um concorrente forte no setor”, conta Carlos Paes, gerente regional do Comper no DF.
A despeito do ganho de musculatura das pequenas, são os grandes varejistas os que mais têm impulsionado a expansão dos supermercados nos subúrbios. “As bandeiras que mais crescem são no formato vizinhança, com preços mais competitivos e sortimento bem planejado para fazer frente às lojas locais”, explica Aboláfio, da Nielsen. Algumas lojas, inclusive, misturam atacado (preços menores para mercadorias compradas em grande quantidade) com varejo, o popular “atacarejo”. “As lojas de vizinhança continuam sendo uma forte tendência. Obviamente, os hiper crescem menos porque são um formato já consolidado”, pondera Maurício Ferrutti, diretor da rede Assaí, que faz parte do grupo Pão de Açúcar.
Boas promoções
Ferruti é o típico dirigente do “atacarejo”. “Nessas lojas, os preços são 20% menores”, garante o executivo. Que emenda: “O objetivo é atender o pequeno varejo, mas as famílias aderiram também. Inicialmente, as classes que atendem a esses conceitos são as que buscam preço, como as C e D. Mas, hoje em dia, há uma procura de custo-benefício por todas as classes”. Segundo Ferruti, esse é o modelo de varejo que mais deve crescer nos próximos anos, principalmente com a melhora de renda da população mais pobre.
Tanto é assim que a maioria desses tipos de mercado se concentra em regiões de menor poder aquisitivo, conforme informações da Nielsen. O diretor do Assaí reforça essa tese com os números da própria rede: “Entre 2007 e o início de 2010, as lojas de ‘atacarejo’ do grupo Pão de Açúcar passaram de 14 para 42. Neste ano, os planos são de abrir mais 20”.
Todos os varejistas seguem na mesma tendência, investindo fortemente no “atacarejo”. “De 1995 até hoje, vínhamos abrindo uma loja de vizinhança por ano. Agora, reduzimos o ritmo e estamos focando no ‘atacarejo’, com a bandeira Forte. No último ano, abrimos quatro lojas”, relata Carlos Paes, do Comper. Até 1999, haviam 72 lojas com tais características no Brasil. No ano passado, já eram 291, um incremento de 304%. Toda essa expansão tem resultado em preços melhores, promoções constantes e boas condições de pagamento.
Hiperinflação
O hábito de estocar mantimentos vem de períodos de instabilidade econômica. É uma herança cultural da era da hiperinflação, na qual os preços variavam em questão de horas. Com a chegada do plano Real, em 1994, e da estabilidade econômica, o brasileiro perdeu a necessidade de fazer grandes compras mensais e passou a ir mais vezes ao supermercado. A consultoria Nielsen mostra que a calmaria econômica mudou o modelo de consumo da população, que trocou as despensas cheias pelas compras de conveniência, fortalecendo os mercados de vizinhança.
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