O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, afirmou à BBC Brasil que estradas estaduais projetadas para cruzar a rodovia BR-319, entre Porto Velho e Manaus, não sairão do papel.
O motivo disso seria a necessidade de proteger as unidades de conservação que vão ser implementadas na região.
Em entrevista em Manaus a uma equipe da BBC que percorreu os quase 900 km da BR-319 entre Porto Velho e a capital do Amazonas, Nascimento afirmou ainda que os governos estaduais já se comprometeram com o projeto.
"A ideia da estrada-parque é exatamente essa: aquilo que está projetado para estrada nova, para vicinal, para assentamento... Isso tudo sai", disse.
"O governo do Estado do Amazonas já abriu mão disso, o governo do Estado de Rondônia e o próprio governo federal através do Incra, com os seus assentamentos, todas essas áreas saem e se transformam em unidades de conservação."
Mecanismo futuro
Para o ecólogo Philip Fearnside, que estuda o desmatamento na Amazônia há mais de 30 anos, esse compromisso do governo não é suficiente. Para ele, seria preciso um mecanismo que garanta que isso realmente vá acontecer no futuro.
"Embora nesses últimos dias tenham adotado um discurso de que não vão mais fazer essas rodovias, não tem nenhum mecanismo para fazer um compromisso que possa ser passado para o próximo governo", disse o especialista à BBC Brasil. "Para que eles não voltem atrás no último momento e façam estas estradas."
O governo brasileiro argumenta que a implementação de 27 unidades de conservação ao longo da BR-319 vai proteger a região.
As pessoas vão ocupar aquela região se nós não cuidarmos de colocar o Estado a preservar, a cuidar dessa região que é tão importante para nós aqui do Amazonas e do Brasil.
Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes
Mas a área prevista dos 27 novos parques soma mais de 10 milhões de hectares, o que leva muitos a questionar a capacidade do governo de fiscalizar as unidades de conservação
As áreas de conservação já foram criadas, mas na prática ainda não foram sequer demarcados.
Para o estudioso de aves Mario Cohn-Haft, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), diante do histórico até hoje, cabe ao governo provar que é possível realizar este plano.
"Eu gostaria de acreditar que seríamos capazes de monitorar e controlar as atividades, mas não temos absolutamente qualquer precedente para isso. Por isso, não posso acreditar que isso seja possível", afirmou Cohn-Haft, que descobriu duas espécies de pássaros na região da BR-319.
"Temos casos e mais casos de estradas asfaltadas que atravessam áreas de florestas e simplesmente perdemos todas as áreas vizinhas."
'Proteção pequena'
Já Fearnside vai ainda mais longe e afirma que, mesmo se houver um monitoramento severo, as reservas só serão úteis para a área diretamente afetada pela estrada.
Ele diz que os impactos da reabertura da BR-319 poderão ser sentidos até em Roraima.
"Nós temos um estudo sobre o Estado que mostra que as derrubadas aumentariam dramaticamente por causa da pressão migratória proporcionada pela abertura da rodovia e a conexão com o arco do desmatamento", afirmou Fearnside.
Utilizando modelos de computador, Fearnside calculou que o desmatamento dentro da área de influência da BR, ou seja, entre os rios Madeira e Purus, deve ficar entre 22% e 33% da área, dependendo da rigidez da fiscalização.
O ministro dos Transportes, por sua vez, afirma que o governo vai instalar nove postos de fiscalização na rodovia e nos seus acessos por rio, para detectar qualquer movimento estranho na região.
Para ele, o maior perigo não é o asfaltamento, mas sim o abandono atual da estrada.
"As pessoas vão ocupar aquela região se nós não cuidarmos de colocar o Estado a preservar, a cuidar dessa região que é tão importante para nós aqui do Amazonas e do Brasil", disse Nascimento.
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