O discurso de boas intenções das empresas de cartões de crédito, com anúncios de medidas para aumentar a transparência e a competição no setor, de nada tem adiantado para os clientes. No que mais pesa aos consumidores, os juros, as operadoras do dinheiro de plástico têm se omitido. Enquanto todas as taxas às pessoas físicas vêm caindo, a ponto de os juros médios recuarem para o menor patamar desde 1995, os encargos cobrados pelos cartões continuam intocados.
Com o desemprego em queda e os salários em alta, população se sente à vontade para ir às compras De acordo com a pesquisa mensal de juros da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), os juros médios pagos pelos consumidores caíram 0,15% em setembro, para 6,74%, o nível mais baixo desde que esse levantamento passou a ser realizado, há 15 anos. No mês passado, apenas duas linhas de crédito não recuaram: o crédito direto ao consumidor (CDC) dos bancos e o financiamento rotativo do cartão de crédito.
No caso do dinheiro de plástico, a última vez que a taxa se mexeu, em fevereiro de 2010, foi apenas para ficar maior. Na época, passou de 10,66% ao mês, em janeiro, para 10,69% no mês seguinte, patamar que perdura até hoje. O que mais assusta os consultores financeiros, o governo e os consumidores é a quanto essa taxa chega no acumulado de 12 meses. Segundo os cálculos da Anefac, 237,51%. Mas, dependendo do banco ou da operadora de cartão de crédito, os juros podem bater em 300% ao ano.
“É uma coisa que foge das regras, da normalidade. Chega a ser abusivo”, critica o educador financeiro Reinaldo Domingos. “Isso significa uma quantidade tão grande de juros que, a cada sete ou oito meses, o endividamento dobra, mesmo com parte das faturas sendo pagas”, ressalta. Um custo tão alto no crédito rotativo é um contrassenso ao marketing positivo que as operadoras vêm tentando realizar por meio da Associação Brasileira da Empresas de Cartões e Serviços (Abecs), que anteontem assumiu um compromisso público de dar maior transparência a seus números e a incentivar a concorrência no setor.
Na visão de Domingos, da forma como funcionam hoje, os cartões não são um aliado dos consumidores, mas verdadeiras armadilhas. “Para os bancos, é muito cômodo oferecer cartões à clientela. As taxas são elevadas e muitas são as tarifas cobradas. O problema maior está na falta de educação financeira dos consumidores. Eles precisam aprender a gastar e, principalmente, a poupar”, pondera o educador.
Desconhecimento
Segundo Miguel de Oliveira, economista responsável pela pesquisa da Anefac, o que falta ao setor de cartões é competição. “Não há explicação para somente os juros dos cartões não caírem. Ocorre que, diferentemente de outras linhas de crédito, não existe concorrência no setor”, explica. Para ele, no curto prazo, o cenário não deve mudar. Mas, com as medidas já tomadas pelo governo para regular parte do setor financeiro — como a questão das maquininhas, que agora aceitam qualquer cartão de crédito ou débito, e a simplificação das tarifas bancárias —, logo chegará a vez de o plástico ter novas regras.
A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste) tem pedido mais pressa ao governo para regulamentar esse setor, principalmente com a ascensão de 30 milhões de brasileiros à classe média, um público estreante no mercado consumidor e que ainda está se adaptando às linhas de crédito. De acordo com pesquisa da Pro Teste, dos 14 cartões que se declaram gratuitos ou sem anuidade, apenas seis não cobram tarifas adicionais para compensar essa gratuidade.
Em comunicado divulgado ontem, a Pro Teste exigiu urgência na regulamentação do setor de cartões para que praticas abusivas sejam coibidas. “O consumidor não pode ser punido por usar um meio de pagamento pelo qual já paga uma tarifa de anuidade, além de outras taxas”, diz na nota Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da associação. Ainda de acordo com a Pro Teste, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deve discutir em sua próxima reunião, prevista para o fim do mês, uma regulamentação acerca da padronização das tarifas cobradas pelas administradoras. O aperto, porém, deixará de fora o custo do crédito rotativo.
Fonte: Correio Braziliense - 15/10/2010
Com o desemprego em queda e os salários em alta, população se sente à vontade para ir às compras De acordo com a pesquisa mensal de juros da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), os juros médios pagos pelos consumidores caíram 0,15% em setembro, para 6,74%, o nível mais baixo desde que esse levantamento passou a ser realizado, há 15 anos. No mês passado, apenas duas linhas de crédito não recuaram: o crédito direto ao consumidor (CDC) dos bancos e o financiamento rotativo do cartão de crédito.
No caso do dinheiro de plástico, a última vez que a taxa se mexeu, em fevereiro de 2010, foi apenas para ficar maior. Na época, passou de 10,66% ao mês, em janeiro, para 10,69% no mês seguinte, patamar que perdura até hoje. O que mais assusta os consultores financeiros, o governo e os consumidores é a quanto essa taxa chega no acumulado de 12 meses. Segundo os cálculos da Anefac, 237,51%. Mas, dependendo do banco ou da operadora de cartão de crédito, os juros podem bater em 300% ao ano.
“É uma coisa que foge das regras, da normalidade. Chega a ser abusivo”, critica o educador financeiro Reinaldo Domingos. “Isso significa uma quantidade tão grande de juros que, a cada sete ou oito meses, o endividamento dobra, mesmo com parte das faturas sendo pagas”, ressalta. Um custo tão alto no crédito rotativo é um contrassenso ao marketing positivo que as operadoras vêm tentando realizar por meio da Associação Brasileira da Empresas de Cartões e Serviços (Abecs), que anteontem assumiu um compromisso público de dar maior transparência a seus números e a incentivar a concorrência no setor.
Na visão de Domingos, da forma como funcionam hoje, os cartões não são um aliado dos consumidores, mas verdadeiras armadilhas. “Para os bancos, é muito cômodo oferecer cartões à clientela. As taxas são elevadas e muitas são as tarifas cobradas. O problema maior está na falta de educação financeira dos consumidores. Eles precisam aprender a gastar e, principalmente, a poupar”, pondera o educador.
Desconhecimento
Segundo Miguel de Oliveira, economista responsável pela pesquisa da Anefac, o que falta ao setor de cartões é competição. “Não há explicação para somente os juros dos cartões não caírem. Ocorre que, diferentemente de outras linhas de crédito, não existe concorrência no setor”, explica. Para ele, no curto prazo, o cenário não deve mudar. Mas, com as medidas já tomadas pelo governo para regular parte do setor financeiro — como a questão das maquininhas, que agora aceitam qualquer cartão de crédito ou débito, e a simplificação das tarifas bancárias —, logo chegará a vez de o plástico ter novas regras.
A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste) tem pedido mais pressa ao governo para regulamentar esse setor, principalmente com a ascensão de 30 milhões de brasileiros à classe média, um público estreante no mercado consumidor e que ainda está se adaptando às linhas de crédito. De acordo com pesquisa da Pro Teste, dos 14 cartões que se declaram gratuitos ou sem anuidade, apenas seis não cobram tarifas adicionais para compensar essa gratuidade.
Em comunicado divulgado ontem, a Pro Teste exigiu urgência na regulamentação do setor de cartões para que praticas abusivas sejam coibidas. “O consumidor não pode ser punido por usar um meio de pagamento pelo qual já paga uma tarifa de anuidade, além de outras taxas”, diz na nota Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da associação. Ainda de acordo com a Pro Teste, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deve discutir em sua próxima reunião, prevista para o fim do mês, uma regulamentação acerca da padronização das tarifas cobradas pelas administradoras. O aperto, porém, deixará de fora o custo do crédito rotativo.
Fonte: Correio Braziliense - 15/10/2010
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