A estilista brasileira Márcia de Carvalho, radicada na Franca, apresentou nesta quarta-feira em Paris um desfile com peças criadas somente com meias velhas e usadas, que não tinham mais o seu par.
As meias utilizadas para criar os modelos foram coletadas pela prefeitura do 18° distrito da capital francesa, onde foi realizado o desfile.
A estilista afirma ter recebido “entre cinco e seis mil meias”, que se transformaram em vestidos, casacos, chapéus, bolsas e lenços, entre outras roupas e acessórios.
“Quis inovar e dar uma segunda vida às meias que perderam a utilidade, criando objetos diferentes”, disse à BBC Brasil a estilista, que possui duas butiques em Paris.
A primeira loja da estilista na capital francesa fica no bairro Goutte d’Or, no 18º distrito, uma região onde vivem pessoas de baixa renda, a grande maioria de origem árabe e africana.
Social
Segundo Carvalho, a iniciativa foi motivada por questões ecológicas, já que suas criações permitem a “reciclagem” das meias, e também por motivos sociais.
Nesse sentido, além do desfile das peças criadas a partir das meias, a estilista criou a associação Meias Órfãs, que oferece cursos de costura em Paris para mulheres excluídas do mercado de trabalho. Elas aprendem a confeccionar modelos utilizando as meias “perdidas”.
Além dos cursos para mulheres de baixa renda, o projeto Meias Órfãs também prevê a inserção de estudantes de moda franceses e brasileiros em comunidades no Brasil que trabalham com artesanato têxtil para descobrir e aprender as técnicas locais.
Um estágio desse tipo já foi realizado em 2009 em Marechal Deodoro, em Alagoas, durante o Ano da França no Brasil.
Parte dos modelos apresentados no desfile da estilista nesta quarta-feira foram confeccionados em Alagoas por estudantes de moda e artesãs locais.
Além disso, um vídeo documentário sobre o trabalho da associação Meias Órfãs realizado em Alagoas também foi apresentado no desfile parisiense.
Ideia 'por acaso'
Márcia de Carvalho afirma ter tido a ideia de transformar as meias sem par “por acaso”, ao arrumar as gavetas de roupas de seus filhos. Inicialmente, ela criou um suéter.
Mais tarde, ela decidiu inscrever o projeto baseado na recuperação de meias em um concurso de criação de moda da prefeitura de Paris, que aprovou a ideia.
Para criar os modelos, a estilista fez construções de retalhos com as meias, utilizando técnicas de costura como tricô, crochê e bordado.
A brasileira criou sua marca de roupas na França em 1991. Em 2001, ela foi uma das dez estilistas escolhidas pela prefeitura de Paris para se instalar no bairro popular da Goutte d’Or e desenvolver um pólo de atividades de moda na região.
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