Um relatório divulgado nesta segunda-feira pela ONG ambientalista Greenpeace acusa o governo brasileiro de financiar indiretamente a destruição da Amazônia por meio de recursos destinados à criação de gado em áreas desmatadas ilegalmente.
De acordo com o relatório, o governo brasileiro é, na prática, "sócio" de grandes empresas do setor por conta dos empréstimos concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Segundo a ONG, os grandes criadores de gado do Brasil, que respondem por 50% das exportações de carne do país, receberam cerca de R$ 5,2 bilhões do BNDES entre 2007 e 2009.
"Os três produtores que receberam a maior parcela dos investimentos do governo brasileiro incluem um dos maiores exportadores mundiais de couro e o maior exportador mundial de carne (controlando ao menos 10% da produção global)", afirma o relatório.
Para o Greenpeace, "a expansão desses grupos é, na prática, uma sociedade com o governo brasileiro". "Para aumentar a parcela do Brasil no comércio global, o governo está fornecendo capital para a expansão da infraestrutura da criação de gado na região amazônica", diz o relatório.
Licença ambiental
O BNDES disse à BBC Brasil que não recebeu oficialmente o estudo e que, portanto, não faria comentários sobre os casos específicos citados no relatório.
A assessoria de imprensa do banco disse ainda que somente os projetos com licença ambiental têm acesso às suas linhas de financiamento.
Nos casos com indício de irregularidade ambiental, o assunto é investigado e, se comprovada a irregularidade, a empresa pode ter sua linha de crédito suspensa, segundo o BNDES.
Consultado também pela BBC Brasil, o Ministério do Meio Ambiente não havia se pronunciado até o início da tarde desta segunda-feira.
Desmatamento
De acordo com o Greenpeace, os criadores de gado na Amazônia brasileira são hoje os maiores responsáveis pelo desmatamento no mundo, respondendo por um em cada oito hectares desmatados globalmente.
O relatório observa que o Brasil é o quarto maior emissor mundial de gases do efeito estufa e que a maior parte de suas emissões vêm do desmatamento da Amazônia.
"Acabar com o desmatamento é uma parte essencial da estratégia global de combate às mudanças climáticas e para preservar a biodiversidade", afirma o Greenpeace.
Segundo a ONG, a expansão da criação de gado na Amazônia ameaça a meta do governo brasileiro de cortar o desmatamento em 72% até 2018.
"Ao financiar a destruição da Amazônia para a criação de gado, o governo do presidente Lula está prejudicando seus próprios compromissos sobre o clima e também os esforços globais para combater a crise climática", afirma o coordenador da Campanha da Amazônia do Greenpeace, André Muggiati.
"Se quiser ser parte da solução para o clima, o governo Lula precisa deixar de dividir a cama com a indústria do gado e se comprometer a acabar com o desmatamento na Amazônia. Senão, será culpado pela catástrofe climática que se seguirá", acrescenta Muggiati.
Marcas internacionais
O relatório do Greenpeace afirma ainda que muitas marcas internacionais estariam contribuindo indiretamente para o desmatamento da Amazônia ao comprar produtos da indústria da carne brasileiros.
Segundo a ONG, entre os compradores de produtos como couro e carne brasileiros produzidos na Amazônia estariam marcas como Adidas/Reebok, Timberland, Geox, Carrefour, Honda, Gucci, IKEA, Kraft, Nike e Wal-Mart.
A acusação ganhou destaque nesta segunda-feira na mídia britânica. Com uma reportagem em sua primeira página, o jornal The Guardian afirma que "os supermercados britânicos estão levando à rápida destruição da Floresta Amazônica ao usar carne de fazendas responsáveis pelo desmatamento ilegal".
O jornal Financial Times diz que a maioria das marcas citadas diz ter contratos com exportadores brasileiros com cláusulas que exigem que o gado não seja originário da região amazônica.
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